Deito-me

Deito-me, à beira deste limite entre a Terra e o Mar

Quero partilhar com ambos a minha solidão.

No limiar do momento, deixo atrás tudo o que ganhei.

Olho o infinito sem ver o que vem.

Vivo apenas o prazer deste momento

em que me deixo envolver pelo silêncio.

Absorvo todos os sons que o horizonte me trás.

Sinto, o toque da água fria deste mar que me afaga

Deixo que o espaço me devore na solidão deste instante,

em que o dia adormece nos braços da minha noite.

Deixo que os pensamentos resvalem para este oceano

que à minha frente se agiganta,

afogando-se no sal desta água pura.

Espero, libertar-me aqui, na beira deste abismo,

deste corpo velho e usado,

e ganhar asas para voar de novo,

numa liberdade há muito conquistada.

Aqui deitada, espero que a noite me abrace

num prolongado momento de solidão.